“É só frescura.”
“Você está exagerando.”
“Todo mundo sente isso de vez em quando.”
“Se fosse sério, você já teria desmaiado.”
Frases assim, ditas com naturalidade, podem parecer inofensivas. Mas para quem vive com ansiedade, elas soam como barreiras. Não apenas por desinformação — mas porque validam o silêncio e afastam o cuidado.
A verdade é que os mitos sobre ansiedade ainda são um dos maiores obstáculos para quem precisa de ajuda emocional. E, muitas vezes, essas crenças também distorcem o que é a própria terapia.
Este artigo é um convite para olhar com mais clareza para o que te contaram — e, talvez, nunca foi verdade.
Quando tudo parece exagero aos olhos dos outros
A ansiedade, por dentro, pode ser um terremoto silencioso. Mas quem vê de fora nem sempre percebe.
Como o emocional se esconde atrás dos mitos
Muitas vezes, a ansiedade não aparece como pânico, mas como um controle excessivo sobre a rotina. Como a necessidade de agradar, a dificuldade de descansar ou a urgência de fazer tudo certo.
Esses comportamentos — elogiados socialmente — mascaram o sofrimento real. E os mitos reforçam isso: “Você é muito competente”, “Você dá conta de tudo”, “Você não parece uma pessoa ansiosa”.
Na psicanálise, isso se relaciona com o que chamamos de ideal do ego: uma imagem que criamos para nos proteger daquilo que não sabemos lidar. Mas o sintoma não desaparece — ele apenas encontra outro caminho para se expressar.
O que o corpo mostra quando a mente está negada
Mesmo quando a mente diz “está tudo bem”, o corpo conta outra história. Tensão muscular constante, dores recorrentes, insônia, alterações digestivas. A ansiedade, negada cognitivamente, se manifesta fisiologicamente.
A amígdala cerebral continua enviando sinais de ameaça. O cortisol, hormônio do estresse, segue elevado. O sistema nervoso não entende que é seguro relaxar.
E o que poderia ser cuidado na escuta, acaba sendo tratado como distração — o que só alimenta mais sintomas.
Mitos comuns que impedem o cuidado emocional
Existem muitas crenças que dificultam o acesso à terapia. Aqui, vamos explorar algumas das mais comuns — e mais prejudiciais.
“Ansiedade é só uma fase”
A ansiedade até pode surgir em momentos específicos. Mas se ela persiste, limita a vida ou ocupa espaço demais, ela não é só uma fase. É um pedido de escuta.
Ignorar esse sintoma pode fazer com que ele se intensifique ou mude de forma: crises de pânico, depressão, sintomas físicos mais graves.
A ansiedade não precisa ser extrema para ser válida. Ela precisa ser reconhecida.
“Terapia online não funciona”
A ideia de que a terapia só é eficaz presencialmente é ultrapassada. O que transforma na terapia não é o lugar físico — é o vínculo, a escuta, a presença real.
A terapia online permite que a pessoa comece o processo com mais conforto e privacidade. Ela pode ser especialmente útil para quem sente ansiedade intensa, tem dificuldade de locomoção ou precisa de mais segurança para abrir suas dores.
O processo é o mesmo: vínculo, escuta, elaboração. A forma pode mudar. A profundidade, não.
“Se eu for pra terapia, é porque fracassei”
Esse é um dos mitos mais enraizados. E também um dos mais cruéis.
Buscar ajuda não é sinal de fraqueza — é sinal de força. É um ato de maturidade emocional. É reconhecer que há algo que merece cuidado, mesmo sem saber exatamente o que é.
Na psicologia, entendemos que o pedido de ajuda é o início do processo de individuação: um caminho de retorno para si, com mais consciência e menos cobrança.
“Eu já tentei sozinho, não funcionou. Nada mais vai funcionar”
Muitas pessoas chegam à terapia cansadas. Já leram livros, fizeram cursos, respiraram fundo mil vezes. E ainda assim, a dor está lá.
Isso não significa que elas falharam. Significa que agora talvez seja hora de não tentar sozinhas.
A escuta de um outro, treinado para acompanhar o que está confuso, pode fazer toda a diferença. Porque o cuidado não vem só da técnica — vem do vínculo.
O que está por trás da resistência em pedir ajuda
Nem sempre a pessoa diz que não quer ajuda. Mas ela adia, questiona, minimiza. Isso também é uma defesa.
Quando o medo da exposição esconde o desejo de ser visto
Às vezes, o maior desejo é ser acolhido. Mas também existe o medo de se ver vulnerável, falho, em conflito. Isso cria um paradoxo emocional.
Na psicologia analítica, chamamos isso de tensão entre persona e sombra. A persona é a imagem social que mostramos ao mundo. A sombra é tudo o que foi rejeitado em nós — e que, quando negado, aparece como sintoma.
Se mostrar em sofrimento é, para muitos, arriscar perder o valor que acreditam ter. Mas o verdadeiro valor está em poder ser inteiro — inclusive com as partes frágeis.
A escrita como espaço de aproximação sem julgamento
Antes de buscar ajuda, talvez seja necessário experimentar um lugar de expressão segura. A escrita pode ser esse lugar.
Escrever é conversar com o que ainda não teve espaço. É se escutar sem pressa, sem censura, sem platéia.
No Método Página em Branco, sugerimos exercícios simples.
Um deles: liste todos os mitos sobre ansiedade que você já ouviu — e escreva como cada um deles te afetou.
Depois, escreva o que você gostaria de ter escutado no lugar.
Esse gesto já é um começo de reparação interna.
Caminhos possíveis, mesmo quando ainda há dúvida
Não é preciso ter certeza para começar. Às vezes, só é preciso não seguir sozinho.
Escutar com presença, mesmo o que ainda não foi dito
A escuta terapêutica não exige palavras bem colocadas. Ela acolhe até o silêncio. Até a resistência. Até a bagunça emocional.
Ali, o que está confuso encontra contorno. O que parecia exagero se mostra legítimo. E o que parecia fraco se revela humano.
Seguir mesmo sem certezas é um tipo de coragem
A ansiedade não desaparece de um dia para o outro. Mas pode ser acolhida aos poucos.
A coragem aqui não é enfrentar tudo de uma vez. É se permitir caminhar — mesmo com medo, mesmo com dúvidas, mesmo em pedaços.
Na terapia, você não precisa ser outro. Só precisa ser quem você é, no seu tempo.
Conclusão – Acolher o que foi negado, para transformar o que pesa
Muitos dos mitos sobre ansiedade foram criados para afastar o desconforto. Mas, ironicamente, eles só aumentam o sofrimento.
Desfazer esses mitos é um ato de cuidado — consigo e com o mundo. Porque quando você se escuta com mais verdade, também aprende a escutar o outro com mais compaixão.
Se você já acreditou em algum desses mitos, talvez esteja na hora de descobrir sua própria verdade — com calma, no seu tempo.
Perguntas Frequentes (FAQs)
1. Quais os principais mitos sobre ansiedade?
Que ansiedade é frescura, que passa sozinha, que terapia é exagero ou que buscar ajuda é sinal de fraqueza. Todos são mitos e dificultam o cuidado emocional.
2. Terapia online realmente funciona?
Sim. A terapia online é eficaz e segura. Ela permite vínculo, escuta profunda e processo terapêutico completo, com a vantagem de ser acessível e flexível.
3. Buscar ajuda é sinal de fraqueza?
Não. É um sinal de maturidade emocional. Pedir ajuda é reconhecer que algo precisa de cuidado — e isso é um gesto de força e consciência.
4. A ansiedade passa sozinha?
Ela pode diminuir temporariamente, mas tende a retornar ou se manifestar de outras formas se não for acolhida e compreendida em profundidade.
5. Como a escrita pode ajudar a superar a ansiedade?
A escrita terapêutica permite nomear sentimentos, organizar pensamentos e criar um espaço interno de escuta e expressão. É um recurso potente de cuidado emocional.